quinta-feira, 7 de março de 2013

Cidade Aberta, Teju Cole

Ficha Técnica

Título original: Open City
Gênero: Romance
Ano de lançamento: 2011
Ano desta edição: 2012
Páginas: 320
Idioma: Português (tradução de Rubens Figueiredo)

Citação: "Eu era o filho estranho, entende? Faltava às aulas para poder ir a outro lugar e ler o que eu queria, por conta própria. Assistir às aulas nunca me ensinou nada. Tudo o que há de interessante está nos livros, os livros é que me deram consciência da diversidade do mundo. É por isso que não vejo os Estados Unidos como monolíticos. Não sou como Khalil nesse aspecto. Sei que lá existem pessoas diferentes, com ideias diferentes, sei de Finkelstein, de Noam Chomsky, e o importante para mim é que o mundo se dê conta de que nós também não somos monolíticos, no que eles chamam de mundo árabe, que somos todos indivíduos. Discordamos uns dos outros. Você acabou de me ver discordando de meu melhor amigo. Somos indivíduos."


Entrei em contato com o livro de Teju Cole ao me inscrever para um dos clubes de leitura que a Companhia das Letras organiza na cidade de São Paulo. E, devo confessar, que péssima maneira de começar num clube de leitura.

A premissa do livro parece ótima: Julius, um nigeriano morador de Nova Iorque, é um psiquiatra que faz sua residência, e que gosta de fazer longas caminhadas pela cidade, e refletir sobre o que vê, sobre si mesmo, numa cidade que ainda carrega os traumas e cicatrizes do atentado de 11 de setembro de 2001. O grande problema é que o romance de estreia de Teju Cole é lento, enfadonho, embora descrito como memorável, e tenha ganho prêmios literários lá fora. Sinceramente, a Nova Iorque que Julius enxerga é estéril, solitária e pedante: entre seu amor pelos museus e pela música clássica, ele consegue nos instigar ao falar de certas obras, mas nos entediar ao descrever quais sensações ele está sentindo quando arrebatado pela sinfonia X ou Z... Talvez eu simplesmente não conheça o suficiente de música clássica para me identificar com o protagonista, mas talvez simplesmente seja muito chato ler sobre as sensações que qualquer estilo de música provoca em qualquer pessoa.

O protagonista é polêmico por ser extremamente arrogante, mas não é uma aversão a ele que me fez não gostar do livro, mas simplesmente a maneira como Cole conduz a trama (que, na verdade, não existe): Julius vagueia por Nova Iorque, mistura suas impressões da cidade com as de sua infância na Nigéria, descobre meio sem querer que quer ir atrás de sua avó em Bruxelas, vai, procura por ela por dois dias depois passa o resto do tempo apenas vagando pela cidade, volta para Nova Iorque e continua vagando e divagando pela cidade. Nada acontece.

Julius é um nigeriano bem nascido, filho de um negro e uma branca de origem germânica. Por ser mestiço e ter um nome pouco tradicional na Nigéria, fica claro que ele não se encaixa lá, fato que se repete onde quer que vá: ele é sempre o outsider, não parece se sentir confortável em nenhum dos cenários do livro. A Nova Iorque que ele descreve é, na maior parte do tempo, um lugar de aparência fria, mas não em relação à temperatura, e sim às pessoas; parece que as pessoas não são parte da paisagem da cidade, somente um pequeno entrevero. 

Para não dizer que somente falei mal do livro, há que se elogiar a quantidade de contradições em Julius, que acabam por torná-lo um personagem mais complexo e verossímil: ele não tem problema em entrar no táxi de um negro, mas acha ofensivo usar o serviço dos engraxates do metrô; ele demonstra estar incomodado ao encontrar Moji, a irmã de um amigo de infância num mercado, e inclusive comenta como ela é irritante e não muito bonita, para algumas páginas à frente, depois de estabelecer uma amizade, comentar como a mesma estava linda na festa no apartamento de seu namorado. Além de sua arrogância, ele também carrega uma certa misantropia, sendo avesso a se relacionar com algumas pessoas, mas o livro só se torna levemente interessante quando há tais interações, já que a vida de Julius é extremamente monótona: seja o preso que ele visita na cadeia, num trabalho voluntário, ou Faroucq, o muçulmano que ele conhece na lan house em Bruxelas (cuja fala foi reproduzida na citação), ou o professor Saito, admirado por sua sabedoria; tais personagens trazem outras vozes, e alguma riqueza e diversidade para a narrativa.

Aliás, utilizando-se das vozes dos personagens Teju Cole levanta alguns temas polêmicos para debate, com opiniões fortes que não posso afirmar que sejam suas, mas que são relevantes o suficiente para receberem um pouco de reflexão: a questão do estado de Israel e a Palestina, com uma crítica à eterna lembrança do massacre dos judeus na segunda guerra mundial, a crítica á política externa americana, preconceito contra os árabes no pós-onze de setembro, casamento gay, sustentabilidade e reciclagem, preconceito racial. Teju Cole dá alguma relevância a seu romance ao abordar tais assuntos, mas de maneira superficial.

Depois de quase 300 páginas de nada acontecendo, uma revelação bombástica é feita sobre o protagonista, e as consequências para tanto simplesmente não existem. O romance continua como se o que aconteceu nas páginas anteriores tivesse sido irrelevante, não há a menor consequência para o diálogo de Moji e Julius, e ele continua a viver sua vida como se aquilo não tivesse proporcionado o menor incômodo nele.

O livro termina com um monólogo sem propósito sobre os pássaros de Nova Iorque, um monte de informação irrelevante que talvez sirva para demonstrar que o protagonista é uma pessoa extremamente solitária, mas que no final só evidencia que este livro demonstra uma tal sensibilidade que não é para todos (com certeza não sensibilizou a mim).

P.S.: Apesar do livro, o encontro do Clube de Leitura foi divertido e proveitoso! E para o próximo leremos um escritor clássico: "O Aleph", de Jorge Luis Borges!

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