segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Velho e o Mar, Ernest Hemingway

Ficha Técnica

Título original: The Old Man and the Sea
Gênero: Romance
Ano de lançamento: 1952
Ano desta edição: 2009
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 126
Idioma: Português (tradução de Fernando de Castro Ferro)

Citação: "Imagine o que seria se um homem tivesse de tentar matar a lua todos os dias", pensou o velho. "A lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de tentar matar o sol. Nascemos com sorte."


Hemingway tinha uma teoria sobre a literatura, chamada de "A teoria do iceberg": segundo ele, apenas um oitavo do iceberg é visível; o resto está submerso. Ele acreditava que o verdadeiro significado de uma obra de literatura não deveria ser óbvio, e sim trazido à tona pela experiência da leitura.

"O Velho e o Mar" pode ser resumido assim. Apesar de o livro em si ser bem enxuto, ele não é "raso": lê-lo é um tour de force no sentido de extrair significado das coisas mais simples, de seus símbolos mais inócuos. E o livro é cheio de significado, pois não foi à toa que em 1954 Hemingway ganhou um Nobel.

Para começar, o livro traz Santiago, um velho pescador numa maré de azar. Sem conseguir fisgar um peixe há 84 dias ele sobrevive com o auxílio de Manolin, a quem ele ensinou a pescar, e que foi tirado de seu barco pelo pai devido à sua maré de azar, mas continua tentando, mesmo sozinho; Santiago é um dos últimos representantes dos pescadores tradicionais de Cuba, que ainda se utilizam de meios quase que artesanais para pescar, ao contrário de outros, pescando em barcos grandes, para seus empregadores. Aqui vale o adendo de que Hemingway, assim como George Orwell, lutou na Guerra Civil Espanhola, e decepcionou-se com o Comunismo (sua mão esquerda sempre fraqueja e o decepciona), fazendo com que esta obra acabe se tornando um libelo anarquista (Guanabacoa, reduto anarquista, é citada por Santiago). Mas tal libelo está submerso, naqueles sete oitavos do iceberg, lembra? O contexto histórico do começo dos anos 50 (pós-guerra), as mudanças de direção do vento durante a história, tudo isso tem um peso na interpretação de "O Velho e o Mar".

A história clássica, universal, do herói que supera todos os obstáculos está bem expressa em Santiago; com poucos recursos ele ainda consegue cumprir aquilo a que se propõe, contra um adversário digno: o marlim, magnífico, glorioso, com quem Santiago se identifica, considerando-se "um igual". Santiago é o herói improvável, pelo qual todos torcem mas que não tem certeza de que cumprirá sua missão, afinal, ele é um velho, frágil, e o leitor se solidariza com sua jornada. Além disso, há as referências religiosas, sendo a trindade (o número 3) repetido durante o livro, incessantemente: três sonhos com leões, três dias de pesca, três ataques "do inimigo" (não vou entregar tudo aqui para não estragar sua leitura). Além do próprio nome ("São Tiago"), e de como ele carrega o mastro de seu barco como uma cruz (mas também como uma bandeira da ideologia que defende, a tradição de pescadores que não trabalham para uma grande corporação). Santiago é um mártir, e, como todos os mártires, não escolheu tal fardo, mas o carrega com seus olhos azuis mirando o horizonte.

A bandeira de Santiago, passada a Manolin na forma da espada do marlim, é a da luta de uma minoria oprimida contra o opressor, luta esta não pelo sobrepujamento, mas sim pela dignidade.

P.S.: Tal resenha jamais seria possível sem (e nem está à altura de) as maravilhosas aulas de Literatura Norte-Americana com a mestra Ana Maria Ialago.

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