terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Em algum lugar do paraíso, Luis Fernando Verissimo

Ficha Técnica

Gênero: Crônica
Ano de lançamento: 2011
Ano desta edição: 2011
Editora: Objetiva
Páginas: 200
Idioma: Português

Citação: "Mas chega de falar só de mim. Vamos falar de você. Você estava com saudade de mim, estava?"


Verissimo, na minha humilde opinião o melhor cronista brasileiro, não se cansa de produzir bons textos (ao contrário daquele monte de porcaria que circula pela internet e atribuem a ele; por favor, leiam os livros dele). Seu humor refinado não deixa escapar nada, desde o relacionamento, conturbado desde o início, de Adão e Eva, passando por dúvidas existenciais com relação à ininteligibilidade da fala do Pato Donald, até a personagem que não está na peça, mas decide entrar pelo uso de seu livre-arbítrio. 

Esta é a mágica: pegar os eventos cotidianos da vida de qualquer um, como o homem discutindo consigo mesmo os resultados de cada decisão relevante da sua vida em um bar (com todas as versões de si mesmo resultantes de cada opção não escolhida), ou ainda, discussões de casais sobre o que comprar no mercado, ou sobre o que cada um vai levar na separação, e ressaltar um detalhe quase inofensivo, esdrúxulo até, da mesma maneira que fazemos com nossas vidas: pegar os pequenos problemas e transformá-los em tempestade. Quem nunca?

Aliás, quem nunca identificou aquele amigo "que só poderia ter saído de um filme" com um personagem de Veríssimo? E quem nunca se identificou com alguma situação, muitas vezes com um pouquinho de vergonha por se ver em tão ridículo papel? A diferença é que você ainda consegue rir das soluções apresentadas por Verissimo. E talvez se pegue, perguntando, "por que eu não fiz exatamente isso?".

"Em algum lugar do paraíso" começa com Adão perdendo sua paz devido a Eva, passa por discussões de relacionamento, filosofa com cães, dá uma passadinha pelo purgatório, relacionamentos variados, teses bovinas sobre a vida, e vai até o espaço sideral... Em algum lugar do paraíso tem um Deus olhando para suas patéticas criações, e gargalhando de suas desventuras e presepadas. E quando ele se distrai e perde algum detalhe, ele recorre às crônicas de Verissimo para se manter atualizado. Afinal, foi ele mesmo quem criou Verissimo, para que seu suprimento de vergonha alheia nunca se esgote. E Ele gargalha novamente.

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