domingo, 9 de setembro de 2012

Guerra Mundial Z, Max Brooks

Ficha Técnica

Título original: World War Z: An oral history of the zombie war
Gênero: Romance
Ano de lançamento: 2006
Ano desta edição: 2010
Editora: Rocco
Páginas: 370
Idioma: Português (tradução de Ryta Vinagre)

Citação: "Havia outro motivo para esta evacuação parcial, um motivo eminentemente lógico e insidiosamente sombrio que, muitos acreditam, sempre dará a Redeker o pedestal mais alto no panteão do inferno. Os que ficassem para trás seriam conduzidos a zonas de isolamento especiais. Seriam a 'isca humana', distraindo os mortos-vivos para que não seguissem o exército em retirada à zona de segurança. Redeker afirmou que esses refugiados isolados e não infectados deviam continuar vivos, bem defendidos e jamais reabastecidos, se possível, para manter as hordas de mortos-vivos firmemente presas ao local. Está vendo o gênio, o caráter doentio? Manter as pessoas como prisioneiras porque 'cada zumbi que sitie aqueles sobreviventes será um zumbi a menos lançando-se contra nossas defesas'."


"Guerra Mundial Z" é uma grata surpresa para aqueles que gostam de histórias de zumbi, principalmente porque ela não é uma simples história de zumbis. Para começar, parte de uma premissa diferente: a guerra contra os zumbis acabou há dez anos, e nós vencemos. Portanto ele conta, em perspectiva, tudo o que aconteceu antes, durante, e o que vem acontecendo após o conflito. Mas, como o subtítulo em inglês diz, é uma história oral, contada pelas pessoas que viveram o conflito. O livro é vendido como uma coleção de entrevistas que não entraram no relatório final entregue ao governo americano, e isso dá um aspecto de "documento oficial" a ele. Essa cara de "coisa real" do livro chega a dar calafrios, pois em muitos momentos você chega a se questionar: e se isso estiver acontecendo de verdade, nesse exato momento?

O narrador, que se diz o entrevistador que coletou todos os depoimentos apresentados no livro, é o único personagem em comum em todas as histórias, embora ele diga que prefira interferir o mínimo possível nos relatos apresentados. Daí que o livro não tem um protagonista, a não ser o próprio conflito em si. Por isso mesmo é até difícil categorizar o livro como um "romance". Também não é um simples livro de contos, já que a história é contada de maneira linear, e as diferentes histórias conversam entre si. O relato de um soldado americano faz referência a eventos narrados por um soldado russo, e por aí vai. Portanto, não é um romance tradicional, e acho que esse é um dos grandes trunfos do livro. Ele é narrado pelos personagens de cada história, de diretores da CIA a civis, de generais chineses a médicos brasileiros. E justamente isso, a exposição aos meandros da politicagem, a burocracia, a burrice dos governantes, dá o quê de real do livro.

O livro conta em detalhes as primeiras infecções, as ações dos governos quanto a isso, e como a infestação se tornou mundial. Fosse por refugiados infectados, ou mesmo o transplante de órgãos com o vírus, ninguém percebeu de onde o perigo vinha. Aliás, quando o perigo foi percebido, ele foi sumariamente ignorado pela alta cúpula de inteligência; somente quando os zumbis estavam mordendo a bunda deles (literalmente) é que ações começaram a ser tomadas. A maneira que Max Brooks descreve esse lado de bastidores do governo chega a ser uma aula de política, e te faz olhar com outros olhos os seus governantes reais.

Empresários da indústria farmacêutica que lucraram com a histeria da infestação zumbi; general chinês que fugiu com um submarino nuclear, para preservar sua família e a dos tripulantes; civis que fugiram para o norte, esperando vencer os zumbis com a neve do inverno; os fracassos do exército nas batalhas contra um inimigo implacável, nunca enfrentado antes: o livro vai muito além do óbvio e não narra somente pequenas histórias de sobrevivência, mostrando tudo o que foi feito, em escala mundial, para que se pudessem vencer os zumbis.

Se há um aspecto ruim do livro, é o excesso de termos técnicos do exército: referências a equipamentos e armamentos do exército, sem uma explicação mais detalhada, faz o leitor ficar boiando em alguns momentos, mas não é nada que atrapalhe a leitura. Muito pelo contrário: tais termos só trazem mais verossimilhança ao livro.

"Guerra Mundial Z" está sendo trazida às telas por Brad Pitt, e eu acredito que pode ser um filme muito divertido, mas que, com certeza, não fará juz ao livro: é um livro sem protagonista, contando dezenas (sim, dezenas) de histórias paralelas. É impossível trazê-lo fielmente às telas e, ainda assim, fazer um produto acessível para as massas. Portanto, não se atenha somente ao filme para julgar o livro.

No final, o que fica mais evidente ao ler este livro é que a guerra contra os zumbis não trará somente um inimigo, os mortos; há outro que está sempre por perto, e que, por sua imprevisibilidade, pode se tornar o mais perigoso de todos: os vivos. Dizem que os verdadeiros amigos só aparecem nas piores horas. Acho que num apocalipse zumbi é quando você realmente descobre quem são seus verdadeiros amigos.

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